quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A sociedade do bullying

“Machucar o oponente é machucar a si mesmo. Controlar uma agressão sem causar dano é a arte da paz”.
[Morihei Ueshiba]


“Violência, mesmo que bem intencionada, sempre retorna sobre si”
[Lao Tzu]
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A brutalidade e a indelicadeza fazem parte da cultura brasileira de longa data, vejamos o “Tristes trópicos” de Levi-Strauss. Mas não quero fazer desse artigo uma “Arqueologia da violência” como fez Pierre Clastres em seu livro de mesmo nome. Meu intuito aqui será apenas o de estimular a reavaliação de certas tradições nocívas à sociedade.

Negão, Pelé, Cafézinho, Pantera  e Braca-de-Neve são alguns dos apelidos dados aos negros. Bixo-de-Goiaba, Branquelo e Lâmpada-fluorescente, aos brancos. Japa, China, Jiraya, Karate-Kid e Samurai são apelidos dados aos de ascendência asiática. Café-com-leite e Seis e meia, são apelidos comuns aos mulatos. Isso para não citar tantos outros apelidos por alguma caracteristica física, dados muitas vezes pelos membros da própria família! Os apelidos são tantos e somos tão acostumados com a naturalidade deles, que até na camisa da seleção são eles que aparecem escritos ao invés dos os nomes dos jogadores.

Não quero aqui fazer aquele discurso reducionista e atacar gratuitamente o Brasil, até porque nossa cultura possui belíssimas capacidades reconhecidas mundialmente. Todos os países possuem tradições a serem revistas. Tradições que são a causa de problemas sociais.

No Brasil, “zoar” é praticamente um patrimônio cultural e normalmente aquele que recebe a “brincadeira” nem a leva a sério pois já está acostumado com elas desde sempre.

É muito importante lembrarmos que o Brasil é um país de novelas. O povo está habituado a acompanhar a vida alheia pela televisão e pelas revistas de conteúdo duvidoso. Assim, perde-se tempo cuidando da vida dos outros e não sobra tempo para cuidar da própria vida. Por essas e outras manias nacionais, a opinião dos outros conta muito no Brasil. Tem muita gente que passa a vida tentando atender as expectativas alheias.

Na minha opinião, as crianças deveriam desde cedo receberem uma educação que lhes libertasse da preocupação de se importar com a opinião dos outros. Essa seria a vacina definitiva para o bullying. Deveriam também aprender desde cedo que respeitar o próximo e saber conviver harmonicamente com os outros é sinônimo de sociedade humanizada.

Confunde-se muito no Brasil, indelicadeza com bom-humor. Toda e qualquer forma deselegante de tratamento pode gerar constrangimentos que não são, em nada, úteis ao bem estar da sociedade como um todo, pelo contrário. A tensão e a atmosfera de competição gerada por apelidos pejorativos e zoação depreciativa, são muitas vezes o primeiro passo para os conflitos.

O que chamamos erroneamente de bom humor é, muitas vezes, apenas a tentativa de produzir sensação de superioridade degradando os outros. É hora de refletir sobre porquê as pessoas precisam degradar os outros para se sentirem melhor. Será que podemos nos considerar felizes se para tal precisamos paulatinamente depreciar o próximo?

Sabemos que gentileza gera gentileza, portanto, se queremos um Brasil mais cooperativo e menos violento está na hora de revermos alguns péssimos hábitos:

1-     Tratar as pessoas sem gentileza e com zoação;
2-     Considerar como mero “bom humor” a tentativa de depreciação moral dos outros.

Quando você ri da depreciação moral de alguém, você contribui para que o bullying siga existindo em nossa cultura.

Os fatores que fazem do Brasil um país violento vão muito além das exclusões e explorações sociais.  Existe uma podridão cultural que precisa ser desaprendida.

Vejamos que há países, como a Índia, onde a miséria é varias vezes mais grave que a do Brasil e nem por isso as pessoas escolhem o caminho da violência. Há algo cultural que induz  alguns brasileiros recorrerem à violência como forma de realizar seus objetivos.

Sem dúvida, quanto mais a forma de tratamento entre as pessoas for sinceramente cortez e gentil, mais pacífica será nossa sociedade. 

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